13/10/2008

A COLUNA DO DR. DELFINO

SIM, O MUNDO VAI ACABAR

Bem, primeiramente quero parabenizar este conceituado Informativo pela coragem ideológica, política e estética de me convidar-me para escrever para seus conceituados leitores. Agradeço também aos 5.121 emails enviados à Redação com perguntas das mais variadas espécies, entre as quais, para hoje, escolhi a da Dª Margarida Felisbina (nome fictício, é claro), que me pareceu tão singela: "Dr. Delfino, o Mundo vai mesmo acabar?".

Sim, Margarida, o Mundo vai acabar, sim. Sempre e desde sempre! Que novidade há nessa história? É como eu digo, quando me chamam de inteligente, bonito ou gostoso: "Não me digam coisas óbvias!!!".

O mundo acaba a cada minuto! Estourou a pipoca? Fim do mundo pro grão de milho, uai. E azar do Piruá, esse preguiçoso que, de um jeito ou de outro, sabia muitíssimo bem que grão nenhum floresce em pipoca se não passar pelo Fogo. Então, desculpa a franqueza, mas eu deixo o Piruá na dele até que ele se toque...

(Tô errado? Se estiver, tudo bem também, porque eu sou Palhaço e, pra mim, Anjo só aparece travestido de Erro — deslumbrante, chiquetérrimo, pura beldade do Ridículo!)

Mas, opa! Não venha mudando de assunto, Margarida! Falávamos do Fim do Mundo, certo? Eita coisa mais antiga, sô. Até demodê!

Só pra você ter uma idéia de como o povo anda distraído pela Vida, até cantiga antiga de roda já versou sobre o assunto: "O anel que tu me destes era vidro e se quebrou / O Amor que tu me tinhas era pouco e se acabou". Captaram a mensagem cifrada? É um mundo acabando atrás do outro, minha gente!

E, enquanto meio-mundo se mete a brincar de esconde-esconde, a criançada continua cirandeando, feliz da vida, passando o anel, pulando a amarelinha, rodando o pião, correndo, pulando, inventando e esquecendo...

Eu nem devia, Margarida, mas como eu percebi no seu email que você é gente fina, de bem, inteligente, simpática e muito inteligente — ou seja: corinthiana! —, vou abrir uma exceção e desvendar aqui e agora um dos grandes mistérios da Vida...

Então, considerando que cada Iniciado tem o Segredo que merece, veja bem que destino vais dar a esta Revelação, hein! Anota aí, na dobra d´alma: A Batatinha, quando nasce, só se esparrama pelo chão porque a Menininha, quando dorme, bota a mão no Coração”. Ou seja, Margarida: LARGA O OSSO E VIRA A PÁGINA!

E para terminar, compartilho contigo e com os mais de seis milhões de assinantes do Bem-te-Vi uma das maiores pérolas da minha Professora Doutora Pós-Graduada Palhaça Bolinha: “O Mundo vai acabar. Só restarão as baratas e os Palhaços. De que lado pretendes ficar?”.

É isso aí, Margarida. Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí, tocando o violão... Você fica em paz e não peques mais!

Legenda de fim de matéria: Envie você também para o "Divã do Dr. Delfino" suas inquietudes, agruras, perguntas existenciais e dúvidas transcendentais: (email do BTV)

*Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio é pós-graduado em Filosofagem e PHD em charme, beleza, elegância, gostosura e modéstia.



biaggiolic@yahoo.com.br

QUANTO TEMPO DURA UMA BELEZA?

Pitava eu o meu cachimbo de bolhas de sabão, em meu iglu vermelho, mergulhado em profunda reflexão sobre o que escrever nesta minha conceituadíssima coluna.

Depois de, na edição passada do BTV, externar minhas humildes opiniões sobre “O Fim do Mundo”, recebi 7.245 emails com maravilhosas sugestões de temas, que iam desde coisas simples como explicar a influência da TPM na composição dos ventos que varrem continentes e movem oceanos até assuntos mais complexos como a travessia da nação corintiana pelo Mar Vermelho rumo à Primeira Divisão. Preferi deixar esses assuntos para uma próxima vez.

Enviei sinais de fumaça (codificados) para Papai Aço, nosso prestimoso Editor, pedindo sugestão de pauta e, dias depois, ele me respondeu:

— Resolva o dilema o melhor que puder: a vida é uma arena com todos em cena e seu grande problema não passa de um tema como outro qualquer. (Estarei demitido?)

Num ímpeto de atitude, bradei aos quatro cantos do meu iglu: “Nunca fui de fugir da raia! E nem da Pillar...” (ops! Perdoem a piadinha fácil. É a velha tendência de perder a egrégora, mas não perder a piada, hehehehehehe) Certamente que algo importante havia a ser dito nesta edição de setembro! As Torres Gêmeas? A saudade de Waldick Soriano? (...) São tantas emoções...

Somente então percebi, ali, ao pé do meu divã, a presença de uma menininha de uns quatro ou cinco anos, com o olhar mergulhado no vôo de cada uma das bolhinhas que decolavam do meu cachimbo... Ela puxou a barra do meu manto azul, sorriu para mim e, com os olhos cheios d´água, me perguntou, à queima-roupa:

— Tio Delfino, quanto tempo dura uma beleza?...Ai, minha Santa Periquita Azul! Até pensei no Abraço do “Love´n Blembers”, mas como é que eu ia explicar isso a ela? Recorri, então, à Dona Bailalina, minha primeira instrutora, que, dançando Lullaby, me revelou:

— ??? ... ; ! # —>

Que lindo, não?! Muito emocionado, obedeci a orientação contida no último símbolo e procurei a Roda de Filósofos, onde, infelizmente, encontrei o Venerável Sr. Gênio Branco e Jovino da Cuuuuuunha, seu fiel escudeiro, enfronhados em decifrar a decadência dos Bobos da Corte nos humorísticos de sábado à noite...

Não podia decepcionar a menininha. Então, reagendei a terapia de casal que estou ministrando para George e Osama; desmarquei a reunião com os correligionários da minha campanha política para 2010, cujo slogan é “Recuse imitações: coloque um Palhaço de verdade na Presidência da República”; adiei para a semana seguinte a sessão intensiva de cócegas no Anão Zangado; e voei secretamente para o local sigiloso onde os Palhaços se reúnem em segredo misterioso para fazer palhaçada, palha frita, palha cozida e (a última novidade) palha de soja.

Percebi que, com exceção dos ausentes, todos os que lá estavam se encontravam presentes — boa parte tendo aulas com crianças e pós-graduação com idosos (crianças bem-sucedidas!).Ao pé-do-fogo encontrei meu colega Dr. Calabreza. Ele compunha o alegretto da sua obra sinfônica "Linha do Mussum em Sol mais do que Maior para Violão, Dididiru e Djembê". Perguntei-lhe: quanto tempo dura uma beleza? Ele olhou para cima, olhou para baixo, olhou para dentro e olhou para fora. Então, em posição de lótus, me enviou a seguinte mensagem cifrada:

— Dura enquanto existir a "Flor", enquanto existir o "Amor". Dura um, dois anos, mil! Dura enquanto existir o potinho do "renew" (vim depois a saber que, na verdade, ele dera passagem à iluminada Entidade de Dona Mortadella, a palhaça costureira, sua excelentíssima progenitora).

À beira da lagoa, abordei Dona Atadolfa Broshaska no exato instante em que ela ensinava acrobacia avançada a alguns gnomos. Quando lhe fiz a pergunta, ela contorceu-se feito um gafanhoto, espetou-se na grama, de pernas para o ar e me respondeu:

— Depende do ponto-de-vista, queixudinho...

Pensei em pensar no assunto mas preferi acenar para o Sr. Fan Farrone , do outro lado da lagoa. Chorando feito um bebê-chorão ele retribuiu ao meu aceno (pensou que eu estava me despedindo, tadinho!).

De repente, tudo parou! Era Dona Bela Belinha, descendo a colina com seus véus esvoaçantes. Corri em sua direção e me lancei aos pés da musa, implorando por uma resposta. Ela me olhou, ajeitou a sainha de chita e me disse:

— Mas é sobre a beleza que dura ou a que cura? Beleza dura ou beleza pura? Pura beleza que cura? Não entendi! Vou continuar a procurar... Será que é pró-curar, antes de curar? Ou pró-criar, antes de criar? Beleza tem tempo? Ou tempo tem beleza? Beleza de tempo, hein, doutor!?!Enquanto eu tentava me safar da vertigem, ela sumiu, colina abaixo, cantando aos Quatro Ventos: “Você pra mim foi um soooooooooollll... de uma noite sem fiiiiiiiiiiiiiiiiimmm...”, inebriante!

Mas, esperem um minuto: se isso tudo é segredo, por que é que vocês estão lendo isto tudo? E, além disso, que direito temos nós, palhaços, pobres imortais, de sempre olhar para o lado engraçado da Vida?

Neste exato momento um tapinha no meu ombro esquerdo me abduziu e me pôs face-a-face com um imenso sol, em seu mais de metro-e-meio de altura. Era Dona Bolinha, nossa Mentora Narigudal, mãos na cintura e pézinho batendo no chão (xi!):

— Tudo do que não se possa rir, não presta! Falei?

Quando me recompus daquele contato imediato do terceiro grau, ela não estava mais lá e, sendo assim, nem pude lhe fazer a bendita pergunta...Voltei para meu iglu disposto a pendurar meu nariz mas, lá, fui recebido no jardim pela própria menininha, que correu na minha direção e se empirulitou no meu cangote, num abraço cheio de beijinhos e mais beijinhos. E então... EUREKA! Eu finalmente entendi quanto tempo dura uma beleza... Mas como é que eu vou conseguir explicar pra vocês, gente?

Se alguém souber essa resposta ou desejar enviar sugestões ou condolências para a COLUNA DO DR. DELFINO, envie-nos um email ou registre um Boletim de Ocorrência!

E até o mês que vem, se Papai Aço não me demitir!

*Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio, vulgo Carlos Biaggioli, é pós-graduado em Filosofagem e PHD em charme, beleza, elegância, gostosura e modéstia.

biaggiolic@yahoo.com.br

“VIDAS PASSADAS” EXISTEM?

Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio
Filósofo e pára-guru, phd em charme, beleza, elegância, gostosura e... modéstia!

Quero lamentar os quase 12 mil emails que despencaram na redação do BTV. Lamento mais pela constatação de tão pouca gente lendo minha conceituadíssima coluna do que pela indignação exposta com o fato de, na edição passada, eu não ter definido “quanto tempo dura uma Beleza”.

E eu lá sei?! Quanto tempo dura a histérica alegria de um golaço na final do campeonato? Ou o frisson do primeiro beijo? Ou o geladinho gostoso descendo goela abaixo na hora da sede? Ou a fração de segundo onde se saca a piada? Ou o chinezinho parando um tanque de guerra em plena Praça da Paz? Ou a primeira picaretada no Muro de Berlim? Ou o primeiro bumbum negro estofando-se no trono imperial? Ou a compreensão da “peia”? Ou, mais ainda, a hora agá?

Papai Aço me entende. Encontramo-nos na Caverna de Cristal — sede giga-secreta da OPAA (Organização de Palhaços Associados e Afins). Era o lançamento do novo cd de Dona Galopeira (“Ícara”), regado a Suco Verde de Dona Benedita Bendita e solados ma-ra-vi-lho-sos do tambor do Sr. PaTo Ma-Xô (Ma por parte de mãe e Xô! por parte de pai). Encontrei o prestimoso editor-chefe do BTV explicando aos Palhaços Anciãos como é que eles são vistos pela Juventude Palhaskeira:

— Somos seus “observadores do Futuro”. E viemos em missão de Paz! — arrematou ele, antes de ouvir meu desabafo. Então, me olhando por entre suas imensas lentes telescópicas, ele botou ponto final na polêmica — Quando escolheu seus profetas, Deus lhes deu muitos caminhos. Porém, só um leva à meta: terão que achá-lo sozinhos. Por isso, todo poeta, às vezes, chora baixinho...

Pensava eu em conversar sobre isso tudo com Mestra Bolinha, quando a campanhia do meu consultório gritou: “Como vai? Como vai? Como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!”. Quem seria? O horário estava vago mas... Eu não poderia atender ninguém! “Como vai? Como vai? Como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!”. A Tradição dos Filosofeiros nos proíbe atender um paciente sem meu jaleco purpúreo de bolotas cintilantes e prateadas! “Como vai? Como vai? Como vai? Muito bem, muito bem, bem, bem!”. Ai, que aflição!

De repente... CATAPÓFT! A porta veio abaixo...

— Desde quando o jaleco é mais importante que a Palhaçada, Delfino?! — era Pafuncinho, ex-paciente meu. No dia em que sacou que “um mais um é sempre mais que dois”, deu-se alta e virou amigo. Depois de um lindo salto mortal, pousou soberano, de pernas já cruzadas, sobre minha poltrona. Ele tinha dessas!

— Dona Mariza não te convocou a ir a Brasília, Pafuncinho, explicar ao Presidente o último placar das eleições?

— Sim, sim... foi... Ela... bom, quer dizer, ele...

— Ah, não... Pafuncinho! Ainda, a velha trava?! — lamentei eu.

Anos atrás, regressamos hipnoticamente à câmara do Faraó, no Antigo Egito. Feliz da vida por matar as saudades (e completamente esquecido de que aquele não era o único dia do ano em que o Faraó o recebia, a sós, na condição de um Sacerdote da Verdade, para ouvir umas boas verdades), o Pafuncinho sacou seu bandolim e tascou nas fuças do monarca:

Olá, Olê!
Tem Faraó querendo se exibir
Olá, Olê!
A seus escravos o Mar vai se abrir...

Quando deu-se por si, estava acuado por egípcios e hebreus num canto do palácio... É evidente que seu nome da época ele prefere, aqui, manter em sigilo secreto e arcano...

— Ah, se naquele tempo já tivessem inventado a agenda...

— Vidas passadas, Pafuncinho...

— Não existe “vidas passadas”, Delfino! — disse ele, tirando uma demorada melequinha do narigão — Só corpos passados... A vida é uma só. Eterna!

— Que seja, já passou! Agora Dona Mariza te chamou... Vai lá, palhaço!

— Eu não! Da última vez, tinha uma passeata da Oposição na porta do Palácio do Planalto. Não é que os infelizes, com umas bolotinhas vermelhas penduradas nos narizes, entraram numas de me colocar como ponta-de-lança da manifestação?!

— Ai, minha Santa Periquita Azul!!! Que foi que você fez?

— Nada, uai. Só recitei pra eles um singelo poeminha do Paulo Roberto Drummond...

Por favor, homem revoltado, ludibriado,
Usurpado, ignorante, passivo e covarde:
Deixa este Nariz aí! Tira ele do rosto!
Este Nariz é do Palhaço, faz parte da alma dele.
Não é utensílio de fracos. Respeita!
Quer protestar, fazer greve,
Reclamar do governo ou dos bancos,
Fazer uma revolução, mudar o mundo?
Vai a luta! Mostra a tua cara: não a do Palhaço,
E se conseguires alguma transformação,
Aí sim, o Palhaço te concederá o seu Nariz.
Mas o Palhaço não é esta tua frouxidão.
Não te confundas com o nobre Palhaço.
Há muito ele é o condutor da alegria,
Da sensibilidade, da liberdade, da emoção,
Da docilidade e da verdade também!
Ele não se oculta, como tu.
Há muito habita o universo mágico da pureza
(Por isso é tão sentido pelas crianças).
O Palhaço não é aquele lado teu, que foge de medo,
Que não enfrenta a luta nem se expõe.
Tira então este Nariz, Homem!
E mostra a tua própria cara.
Pode ser que teus problemas comecem a ser resolvidos.
E, quem sabe, se fores um lutador de verdade,
Um Palhaço sorria para ti...

Isto posto, Pafuncinho deu outro salto mortal sobre a minha cabeça e parou, postado, ao batente da saída. Então, alisando o vinco de sua meia-calça (herança da época em que foi Bobo da Corte, na França medieval), ele me contou a última de nossa Mestra Bolinha:

— Encontrei a Mestra esculpindo Galinhas da Sorte... Ela ria muito, feliz da vida, porque havia encontrado uma lâmpada no meio do Caminho! Sabe como Mestra Bolinha aprecia a estética das coisas, né? Resolveu limpar uma poeirinha e PUF!, apareceu um Gênio, que lhe concedeu três desejos... Sabe o que ela pediu?

— Não faço a menor idéia...

— Um: quero ser Você! Dois: quero ser Você! E três: quero ser Você!

Mestra Bolinha tem dessas...

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COMO SE ENSINA UM SORRISO?

Por Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio *

Quando o meu T.A.P.A. tocou (telefone amarelo de palhacisse avançada), quase fui abduzido! Quem diria que aquela geringonça teria a capacidade de tocar? Além disso, aquilo significava uma importante missão no exercício da minha sacerdotal profissão de Paraguru Filosofístico — normalmente eu escreveria para-guru, mas de uma hora para outra vi-me simplesmente solapado dos meus mais fundamentais ícones: o hífen e o trema!

— Venha me salvar, gafanhoto! — choramingou, do outro lado da linha, uma bem conhecida e sorridentemente rouca voz.

Era Dona Choramingas**, minha mestra de “Sorriso Enigmático, Transformador e Pacificante”, renomadíssima disciplina da Academia Brasileira de Palhacisses Avançadas, cadeira inaugurada por Mona Lisa — grande motivo de controvérsia, pois esta honra vem sendo disputada por ninguém menos que Irene Veloso, Helena de Tróia, Cleópatra e (pasmem!) Eva, a própria.

Que todas elas me perdoem, mas convenhamos: uma coisa é a pós-graduação em “Sorriso Enigmático”; outra, é o mestrado em “Sorriso Transformador”. O que se dirá, então, do doutorado em “Sorriso Pacificador”?

Justamente naquele momento estava, em meu divã, dona Dilma Roussef, a dissertar sobre “a necessidade premente de uma envergadura humorística na retórica governamental em prol de um cabal superávit de alegria para sua pré-candidatura ao Planalto”. E, por increça-que-parível, ela e eu discutíamos precisamente a tendência barroca de seu sorriso quando recebi o T.A.P.A.!

Na grande parte das vezes, as aulas de Dona Choramingas eram ministradas sem que a víssemos, graças ao poder de invisibilidade que lhe conferia sua toga de mestra — esse era, segundo ela, “o verdadeiro pó-de-pirlimpimpim”da boa palhaçada, calcada na laje da Surpresa, gerador de sorrisos encantadores!

O que é um Sorriso, gafanhoto Delfino?! — desferiu uma vez, à queima-roupa, durante o meu mestrado.

Empinei ligeiramente o traseiro, fiz boca-de-ovo, coloquei as íris no teto dos globos e arregalei um bocadinho as narinas, enfim: fiz pose de intelectual pronto pr´uma boa dissertação filosófica... Mas, graças ao Grande Narigudo, ela foi mais rápida, deitou-se no gramado, espreguiçou-se, fez sinal de paz-e-amor com as duas mãos e me olhou com tanta paz e despretensão, que eu me senti tão bem, mas tão bem, que eu... eu... eu sorri, uai!

Fui arrancado dessas lembranças pelo olhar calado de La Roussef, no qual pressenti uma premissa de sorriso e, por conta da qual, dei-lhe alta sem pensar duas vezes.

Nem uma hora depois, lá voava eu em minha discreta, arcana e secreta asa-delta particular de bolinhas amarelas sobre um fundo verde-limão rumo a um departamento de Imigração europeu. Teria chegado logo, não fosse um pitstop forçado em uma nuvem para um rápido interlóquio com um simpático E.T., impressionado com a proeza realizada por Mestra Bolinha num caudaloso rio do coração da Selva Amazônica, onde, durante a navegação, ela havia conseguido acoplar harmoniosamente três enormes barcos.

— A milênios meu povo tenta isso, em vão, com nossos discos voadores pelo Espaço Sideral!...

Sem perder tempo, indiquei-lhe o Bosque da Saúde e completei o vôo até aterrizar no bendito aeropuerto, onde, para localizar Dona Choramingas, lembrei-me de um dos seus maiores ensinamentos :

Gafanhoto Delfino, quando a Oposição tá-com-tudo-e-não-dá-prosa, DANCE PRA ELA!

Parafraseando um dos meus mais complicados pacientes, entrei numa cabine telefônica e dela saí travestido de Agnaldo Rayol, cantando a plenos pulmões, com a mais preciosa voz de tenor tupiniquim:

“Em plena praia / No céu azul brilhava / O Sooooool / Eu, junto ao mar / A meditar coisas de amoooooor...” — dois minutos e meio depois, lá estava eu no departamento de Imigração, esguichando jatos de lágrimas multicoloridas (nosso código secreto).

Choramingando de felicidade, Dona Choramingas me apontou três moças que fingiam não se conhecerem, um menino de olhos vermelhos escondidos num capuz, uma loira de franja nada simpática e um gordinho com ares de rabugento.

Não pude conter um pum-de-talco quando percebi que minha querida professora havia caído nas garras da OPERAÇÃO B.U.F.A. (Bobalhões Unidos pela Falência da Alegria), uma das piores opositoras da O.P.A.A., a Organização de Palhaços Associados e Afins.

Imediatamente me conectei com o pensamento de Dona Choramingas, em busca de orientações e estratégias... no entanto, o que detectei ali foi uma imensa vontade sua de voar com Al Pacino!!! Ô, dó! Usei toda a minha potência subatômica e a plasmei dançando com ele um belo tango sobre as nuvens, perfumada com Elixir de Flores!...

Isso acabou funcionando como um poderosíssimo antídoto contra a ação da B.U.F.A, pois descobri em um careca com ares de gripe, uma brecha aberta naquele “atentado terrorista” contra Dona Choramingas. (Vamos combinar? Nada como um bom resfriado pra fazer a gente se sentir criança de novo, né?! Cobertinha na frente da TV, mamãe trazendo chazinho e pipocas, papai fazendo cosquinhas nos pés...)

Telepaticamente eu a alertei sobre isso e, com toda força, ela meditou:

— Careca resfriado ....me chame! Careca resfriado ....me chame! Careca resfriado ....me chame!

Infelizmente, um arroto do menino com capuz desviou o trajeto do pensamento dela, que foi trombar com o gorducho rabugento. Ele finalmente a chamou, mas foi para entupi-la de perguntas repetitivas, típica estratégia de terrorismo contra o bem-estar da boa palhaçada.

A situação reclamava ATITUDE, e sem perda de tempo.

Então, já bem ciente de determinado "ponto fraco" do dito-cujo, voltei à cabine telefônica e, dela, saí travestido de Antonio Banderas. Borrifei-me um autêntico patchulli, encostei-me ao seu cangote e, abraçando seu barrigão, vali-me de sua mesma estratégia, cantando em seu ouvido esquerdo (repetitiva e apaixonadamente) o mantra “La Boquita de la Botella”...

Com os olhos revirados de horror, em pouquíssimos minutos ele devolveu o passaporte à minha amada mestra, que decolou para Marselle, onde foi perguntar ao Tarot como é que se ensina um Sorriso...

* Dr. Delfino Anfilófio Petrúcio é Palhaço, Para-guru Filosofístico
e PHD em charme, beleza, elegância, gostosura e modéstia

** Luaa, mui amada...

biaggiolic@yahoo.com.br

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